Sagradas Artes

Dentre os métodos de evangelização adotados pelo IMPF, há expressão artística. A arte, em toda a história da humanidade, sempre foi um meio de comunicação muito eficaz. Com uma linguagem clara e sensível, a arte consegue expressar mais profundamente àquilo que se quer transmitir. A Igreja vê na expressão artística grandes possibilidades no que se diz respeito à evangelização, tanto que podemos encontrar alguns documentos e encíclicas que falam a respeito do assunto. Aliais, vemos ao longo da história que a arte sempre foi uma forma de evangelização bem utilizada, como os vitrais, pinturas e ícones, por exemplo, que colaboraram na evangelização de não-alfabetizados.

Nos tempos atuais, as formas diversas de arte tem sido a maior “atração” da sociedade moderna, de forma que tais expressões artísticas tem influenciado o modo de pensar e agir de muitas pessoas. Poderíamos citar conhecidos festivais musicais que marcaram a sociedade nos anos 60 e que repercute até os dias de hoje, ou o notável crescimento da dramaturgia e cinema. Expressões de arte muitas vezes com mensagens ambíguas e até adversas aos ensinamentos cristãos, embora não seja assunto central deste documento, podemos nos ater a futuras reflexões e estudos a respeito. O fato é que a arte oferece uma gama de possibilidades para a evangelização. Aliais, já dizia o saudoso e amável Papa São João Paulo II, que há uma aliança profunda entre o Evangelho e a Arte[1]. São João Paulo II também nos ensina em sua Carta aos Artistas, que toda forma de arte é, a seu modo, um caminho de acesso à realidade mais profunda do homem e do mundo. E, como tal, constitui um meio muito válido de aproximação ao horizonte da fé, onde a existência humana encontra sua plena interpretação. Por isso é que a plenitude evangélica da verdade não podia deixar de suscitar, logo desde os primórdios, o interesse dos artistas, sensíveis por natureza a todas as manifestações da beleza íntima da realidade.

Com esse pensamento encorajador é que o IMPF adota dentre suas formas de evangelização as artes sacras, a arte religiosa e suas expressões. Que fica sob a responsabilidade do SERVIÇO DE ARTES SANTA CECÍLIA. A seguir veremos algumas delas:

 

  1. A Música Sacra

 A música sempre desempenhou um papel importantíssimo na evangelização, dando maior solenidade aos ritos litúrgicos ou um caráter mais contemplativo dos mistérios Cristo. Nisso é importante recordar, que quando se fala em Música Sacra, estamos nos referindo a música que está à serviço do culto litúrgico, onde há destaque para o canto gregoriano, que foi e ainda é o canto oficial da Igreja. Após o Concílio Vaticano II, foram adequadas ao rito litúrgico outras formas de canto, levando em conta que a música deve ser livremente cultivada na Igreja segundo a tendência dos nossos tempos de todos povos e todas as regiões desde que se ponha a serviço da honra e da dignidade dos templos e das celebrações religiosas[2].

O Instituto Missionário Porta Fidei, através do seu Serviço de Artes Santa Cecília, quer promover e difundir a música sacra, com a criação de Corais de Canto Gregoriano e música clássica, e no que se diz respeito as missões, a Igreja nos ensina que é preciso dar a devida importância a música sacra e um lugar de destaque no culto[3]. Imbuídos de espírito cristão, consideramos uma verdadeira vocação cultivar e desenvolver o tesouro da música sacra, compondo melodias que expressem de fato as características da música sacra[4]. Como proposta de evangelização, o Serviço de Artes Santa Cecília deseja levar Cristo e seu Reino ao coração dos povos através dessa expressão artística, não se importando as condições, mas levando a consideração o mandato missionário, o convite da Igreja a descobrir a profundeza da dimensão espiritual que sempre caracterizou a música sacra[5].

 

  1. A Música Religiosa

A música religiosa é aquela que está voltada à evangelização de maneira geral, onde valendo-se das diversas formas de rítmo, desde que seja estas adequadas e não contrárias a moral cristã, se torna um meio eficaz de anúncio da Palavra de Deus, levando à todos essa Palavra em forma de melodias.

É interessante ressaltar a importância que o Concílio Vaticano II teve em relação às artes, principalmente a música. A prova disso é que o Concílio dedica na Constituição Sacrosanctum Concilium, dentro do contexto da música sacra, um capítulo inteiro sobre assunto. Também a música religiosa é considerada pelo Concílio como sendo um meio para a participação dos fiéis nos exercícios piedosos e sagrados, bem como nas ações litúrgicas, segundo o que as rubricas determinam[6]. No pós-Concílio notou-se um grande explosão das expressões artísticas na Igreja nos tempos atuais. Surgiram vários clérigos e leigos com notáveis dons artísticos, entre eles a música. Por todo o mundo, surgiram diversas bandas católicas, tendo a missão de evangelizar o mundo com a beleza de sua arte, através de suas composições, canções e arranjos musicais. Tudo isso com um renovado ardor missionário e zelo apostólico. Todos contribuindo, através da música, para a evangelização dos povos. Ainda sim, existe a carência de uma formação mais madura e consistente, que identifique tais expressões da música religiosa como sendo CATÓLICAS.

Nesse sentido, o Instituto Missionário Porta Fidei deseja promover o surgimento de novas expressões da musica religiosa, por meio de ferramentas como: escolas de música, novas bandas musicais de caráter missionário, dentre outras iniciativas que poderão vir a ser contempladas por esse documento. Além disso, quer colaborar intensivamente com a formação doutrinal dos músicos católicos, para que haja coerência com a fé que recebemos da Santa Igreja.)

 

  • A Dança Sacra

Não somente a música teve um considerável crescimento após o Concílio Vaticano II. A dança também. Desde a década de 80 surgiram no Brasil, vários grupos de dança, ligadas aos seus movimentos e paróquias, e que têm se mostrado como uma forma de evangelização muito eficaz. Nosso corpo, sensível e dócil ao movimento, e uma fonte inesgotável de expressão.[7]

É uma grande missão do nosso tempo a ressacralização do corpo. Num mundo onde a beleza do corpo é tão instrumentalizada para o pecado, e numa época em que o corpo humano e seus movimentos são perniciosamente usados, a dança tem esse desafio[8].

Um grande desafio é realizar uma verdadeira conscientização acerca da dança em relação a liturgia. Uma formação coerente com a fé da Igreja e fidelidade ao rito celebrado se faz necessária, para evitar abusos litúrgicos que acabam por retirar todo o caráter sagrado da Santa Missa, enaltecendo o culto antropocêntrico ao invés do culto à Deus. Para isso, é necessário também saber o que é a liturgia, do que se trata a Santa Missa, para justamente evitar tais abusos, levantando sempre a questão se a dança é necessária ao caráter solene da Santa Missa.

Nessa perspectiva de “vocação dançante” na missão da Igreja, poderíamos conhecer um pouco mais a história de São Gonçalo de Amarante, frade Dominicano que viveu em Portugal no século XI. Contam que, tendo sido transferido para uma pequena aldeia onde a maior parte da população feminina era composta de prostitutas, Gonçalo se sentiu inspirado a criar um meio de fazê-las sair do pecado. Observando que uma das principais características daquele povo era a alegria no dançar e a participação em grandes festas, o frade decidiu utilizar após as missas dos fins de tarde uma espécie de coreografia para qual convidava todos os participantes da celebração. A iniciativa foi mudando o perfil da cidadezinha. Os maridos que passavam as noites nos prostíbulos passaram acompanhar suas esposas para as celebrações e as prostitutas passaram a namorar decentemente os rapazes solteiros. O Fato é que em poucos meses todos os prostíbulos da cidade haviam fechado.

Vemos então um belo horizonte para a dança, pois como vimos antes, ela tem papel importante não só nas festas religiosas mas também nos ritos litúrgicos. Nosso interesse é promover o Reino de Deus através dessa arte, mostrando que ela também é uma expressão de louvor e exaltação.

 

  1. O Teatro Sacro (Artes cênicas)

 “O teatro sempre funcionou como instrumento importantíssimo de aproximação do ser humano às experiências religiosas. Ligar o homem a Deus cabe à religião. Facilitar essa mensagem é papel do teatro sacro. (…) Atuar é evangelizar.” (Anselmo José Frugerio,Teatro Sagrado , pág.32s)

O IMPF visa usar a arte do teatro tanto no âmbito litúrgico quanto na evangelização e ensino. Há um vasto campo e missão através do teatro sagrado além de podermos usá-lo para uma maior conscientização da responsabilidade social dos cristãos. “O zelo pela tua casa me consome” ( Jo 2,17; Sl 68,10 )

Que a oração e a criatividade conduzam esta arte tão bela e cheia de Deus nos caminhos dos nossos projetos. Peçamos a intercessão do homem santo João Paulo II, Papa Peregrino, que em sua juventude também foi ator- sacro. Rogai por nós amigo de Deus, para sermos firmes e ousados na fé. Amém! Amém!

 

  1. Outras formas de arte:

 Também é proposta do IMPF apresentar como forma de evangelização, outras expressões de arte, à medida que o exercício missionário o exigir.

 

  • O aspecto formativo dos artistas sacros

O Instituto Missionário Porta Fidei não só visa promover a evangelização através das artes Sacras, como também deseja cooperar com formação de tais artistas que irão compor os diversos carismas artísticos do IMPF como na Igreja em geral. Com a capacitação necessária dentro de cada arte específica através de cursos, o Serviço de Artes Sacras Santa Cecília visa obter habilidade[9] e excelência na execução das formas artísticas, e assim ter êxito em sua missão.

Além da formação técnica, também é desejo do IMPF, através de seu Serviço de Artes Sacras, e com a colaboração do Serviço de Formação Bento XVI, promover a formação doutrinal católica, no tocante ao carisma artístico, para que com fé madura e alicerçada na Sã Doutrina, todo artista vinculado ou que usufrua da formação oriunda do nosso Serviço de Artes Sacras, possa evangelizar de forma coerente e fiel com a fé da Igreja.

 

[1] Carta do Papa João Paulo II aos artistas, 6 pág. 13

[2] SC. 123 pág. 68

[3] SC 119. pág. 64

[4] SC 121. Pág. 65

[5] Carta do Papa João Paulo II aos Artistas. 14

[6] SC 118.

[7] Documento 43, CNBB

[8] Arte e poder na Casa de Deus, de João Valter ; Editora Santuário

[9] Em I Cr 25,1-7, encontramos o relato dos músicos selecionados pelo Rei Davi para o serviço no templo, com a descrição de que todos eram hábeis em sua arte.